Os aspectos sensoriais do autismo

Abstract

A última versão do DSM, o DSM-V, passou a considerar os aspetos sensoriais como parte fundamental no diagnóstico das Perturbações do Espectro do Autismo. Vários estudos corroboram esta evidência revelando a presença de alterações ao nível do processamento sensorial em 40% a 80% das crianças com esta perturbação. No entanto, a compreensão dos aspetos sensoriais em adultos autistas ainda é muito limitada. Assim sendo e, conscientes da importância dos deficits sensoriais na qualidade de vida quer do indivíduo quer do meio circundante e, na escassez de estudos deste cariz, o presente estudo, teve como objetivo descrever os deficits sensoriais em adultos autistas e compará-los com indivíduos com outro diagnóstico e indivíduos sem diagnóstico. Participaram neste estudo 57 indivíduos, 22 com Perturbação do Espectro do Autismo, 15 com outro diagnóstico e 20 sem diagnóstico. Utilizaram-se duas medidas concorrentes de avaliação da experiência sensorial, o “Questionário de Perfil Sensorial” de Dunn e Westman (1995) e a “EVALISA, grelha de avaliação da intensidade das particularidades sensoriais” de Régis Brunod (2012). Os resultados demonstram que os autistas apresentam níveis superiores e estatisticamente significativos na intensidade das particularidades sensoriais bem como défices sensoriais superiores e estatisticamente significativos, comparativamente com os indivíduos com outro diagnóstico ou sem diagnóstico, exceto nas dimensões audição e dimensão das respostas emocionais-sociais. Estes resultados são consistentes com a nova proposta do DSM-V, tendo fortes implicações na compreensão do comportamento autista, nomeadamente para o terapeuta na delineação de estratégias de intervenção.