Temperamento, regulação emocional e labilidade negativa em crianças institucionalizadas e não institucionalizadas

Abstract

Este estudo pretendeu contribuir para aprofundar a compreensão sobre a associação entre a regulação emocional e as dimensões do temperamento em crianças institucionalizadas, que se encontra insuficientemente explorada na literatura. Teve como objetivos: i) aferir se existe uma associação entre as dimensões do temperamento na regulação emocional e na labilidade negativa em crianças institucionalizadas e não institucionalizadas; ii) analisar as diferenças nestas três dimensões em função do grupo (i.e., institucionalizadas versus não institucionalizadas), do sexo e da idade. Participaram, nesta investigação, 94 crianças (46 institucionalizadas; 48 não institucionalizadas), entre os 6 e os 10 anos (M = 8.30; DP = 1.00). A regulação emocional e a labilidade negativa foram avaliadas com recurso à versão portuguesa da Emotion Regulation Checklist (ERC), e as dimensões temperamento com a versão portuguesa do School-Age Temperament Inventory (SATI). Observou-se que: i) as crianças com maiores níveis de persistência na tarefa e de aproximação/evitamento eram mais eficazes na regulação emocional; ii) as raparigas regulavam mais eficazmente as suas emoções do que os rapazes; iii) a institucionalização, a idade, a reatividade negativa e a atividade não estavam significativamente associadas à regulação emocional; iv) as crianças com menor persistência nas tarefas e maior reatividade negativa exibiam maior labilidade negativa; v) a atividade, a aproximação/evitamento, a institucionalização, o sexo e a idade não estavam significativamente associados à labilidade negativa. Adicionalmente, as crianças institucionalizadas apresentavam maiores níveis de atividade do que as não institucionalizadas, e os rapazes maiores níveis de atividade, de reatividade negativa e de labilidade negativa do que as raparigas. São discutidas as implicações destes resultados para a intervenção psicológica com crianças em acolhimento residencial.

This study intended to contribute to further understand the association between emotional regulation and dimensions of temperament in institutionalized children, as evidence on this association is scarce. It aimed to: i) verify if temperament dimensions are associated with emotion regulation and negative lability in institutionalized and noninstitutionalized children; ii) to analyse differences in these three dimensions regarding group (i.e., institutionalized versus noninstitutionalized), sex and age. Participants were 94 children (46 institutionalized; 48 noninstitutionalized), aged between 6 and 10 years old (M = 8.30; SD = 1.00). Emotion regulation and negative lability were assessed with the Portuguese version of the Emotion Regulation Checklist (ERC), and the temperament dimensions with the Portuguese version of the School-Age Temperament Inventory (SATI). Results show that i) children with higher levels of task persistence and approach/withdrawal were more effective in emotion regulation; ii) girls were more competent regulating their emotions than boys; iii) institutionalization, age, negative reactivity and activity were not significantly associated with emotion regulation; iv) children with less task persistence and higher negative reactivity show more negative lability; v) activity, approach/withdrawal, institutionalization, sex, and age were not significantly associated with negative lability. Additionally, institutionalized children present higher levels of activity than noninstitutionalized ones, and boy sexhibit more activity, negative reactivity, and negative lability than girls. The implications of these results for psychological intervention with in-care children are discussed.