Psicopatologia em contexto prisional

Abstract

O contexto prisional, pelas suas características de natureza totalitária e de isolamento do mundo exterior, potencia o surgimento de determinadas perturbações mentais. As evidências demonstram que o número de reclusos que possui perturbações mentais ou sintomatologia psicopatológica continua a aumentar de forma progressiva neste contexto, verificando-se um incremento da prevalência dos problemas relativos à saúde mental. Neste sentido, o objetivo do presente estudo consistiu em compreender a relação entre determinados fatores e a existência de sintomas psicopatológicos no contexto prisional. O estudo em questão possui um design transversal, tendo-se optado pela utilização de uma metodologia quantitativa. A amostra é composta por 164 indivíduos reclusos em 4 estabelecimentos prisionais portugueses, sendo que 84,1% dos participantes pertencem ao sexo masculino (n=138) e 15,9% pertencem ao sexo feminino (n=26), e possuem idades compreendidas entre os 18 e os 79 anos (M= 38,41 e DP= 11,449). A recolha de dados foi realizada através de dois processos distintos, que consistiram na aplicação de questionários aos reclusos, o Inventário Breve de Sintomas (BSI) e o Positive and Negative Affect Schedule (PANAS), e na consulta dos processos individuais dos participantes, através da qual se preencheu um Questionário Sociodemográfico e Jurídico-penal. Os resultados obtidos demonstraram que variáveis como o sexo, a faixa-etária, o estado civil, o número de filhos, a situação jurídico-penal, o tipo de crime e a frequência do contexto escolar possuem uma relação com a existência de sintomatologia psicopatológica nos indivíduos que se encontram em reclusão. Para além disso, foi possível verificar que o sexo e os afetos negativos se constituem como as principais variáveis preditoras da experiência de mal-estar dos indivíduos inseridos no contexto prisional. Este estudo vem enfatizar a necessidade de intervenções em meio prisional que procurem minimizar os fatores de risco que possuem uma relação com a existência de sintomatologia psicopatológica neste contexto.

The prison context, due to its characteristics of a totalitarian nature and isolation from the outside world, enhances the emergence of certain mental disorders. Evidence shows that the number of prisoners with mental disorders or psychopathological symptoms continues to increase steadily in this context, with an increasing prevalence of mental health problems. Therefore, the objective of the present study was to understand the relation between certain factors and the existence of psychopathological symptoms in the prison context. For this cross-sectional study a quantitative methodology was used. The sample consists of 164 individuals inmates from 4 portuguese prisons, with 84.1% of the participants being male (n = 138) and 15.9% female (n = 26) and aged between 18 and 79 years (M = 38,41 and SD = 11,449). Data collection was carried out through two separate procedures, which consisted of applying questionnaires to prisoners, the Brief Symptom Inventory (BSI) and the Positive and Negative Affect Schedule (PANAS), and consulting individual participants' files from which a Sociodemographic and Legal Criminal Questionnaire was completed. The results showed that variables such as gender, age group, marital status, number of children, criminal-legal status, type of crime and attendance in the school context have a relation with the existence of psychopathological symptoms on individuals who are in reclusion. In addition, it was possible to verify that gender and negative affects are the main predictor variables of the malaise experience of individuals inserted in the prison context. This study emphasizes the need for prison interventions that seek to minimize risk factors that are related to the existence of psychopathological symptoms in this context.